sexta-feira, 19 de abril de 2013

O Senhor Henri

ESCOLASECUNDÁRIA DE LEAL DA CÂMARA
 
 





A leitura desta obra insere-se no contexto da realização do Módulo IV - Nanomundo, do projeto Newton Gostava de Ler que teve lugar na biblioteca a 12 de março pelas 10 horas.
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“Porque é fácil de ver: não são as coisas que são temporárias, são os investigadores que são temporários.
Newton morreu, como é sabido, mas as coisas que ele viu não. (E às coisas que ele viu, às suas transformações, os vivos chamam agora outros nomes.)"
                    
Gonçalo M. Tavares, Enciclopédia 1-2-3. Relógio D’Água. 2012
           

                A partir da leitura deste fragmento, poder-se-á inferir que o conhecimento é fruto da interação do Sujeito sobre o Objeto, numa tentativa de o compreender e explicar. Esta atitude de questionamento da realidade por parte dos investigadores reflete uma maneira científica de pensar, que visa alcançar a ilusão da Verdade, acrescentando, desenvolvendo, fazendo avançar o conhecimento na procura do Novo.

                Deste modo, a ciência progride com a lucidez de que faz parte intrínseca da natureza do próprio conhecimento questionar a ordem das coisas e, por isso, o cientista procura permanentemente novas explicações, para responder aos novos desafios resultantes do progresso da ciência. O conhecimento gera mudanças, transformações que exigem criatividade e imaginação para fazer pensar em novas hipóteses, que vão dar origem a novas teorias científicas e a novos instrumentos necessários à apropriação dessa nova realidade.

Podemos, então, afirmar que o desejo de conhecer e de explicar a realidade serve-se da linguagem para fazer avançar a ciência, usando-a para alcançar a Verdade. Ao contrário do que se poderia supor, a objetividade e o rigor exigidos pelo método científico pressupõem outras características que se pensa serem exclusivas do mundo da cultura e das artes, como a literatura. As fronteiras entre a ciência e a literatura parecem esbater-se, uma vez que ambas recorrem à criatividade para gerar ideias novas e criar algo novo.

O Senhor Henri de Gonçalo M. Tavares é o exemplo de, como através da linguagem (literatura), é possível abordar temas da ciência.

Neste livro, o segundo da coleção «O Bairro», o leitor é confrontado com a ideia da temporalidade do saber, em busca do verdadeiro conhecimento, guiado pelo Senhor Henri, o protagonista, que se autocaracteriza como sendo «muito cerebral», muito bem informado, detentor de um vasto conhecimento enciclopédico, que partilha com todos os que o querem ouvir no estabelecimento onde passa a maior parte do tempo.

Ao longo da leitura, através das várias reflexões e associações que a personagem vai estabelecendo, é sugerida uma maneira científica de pensar, usada pelo Senhor Henri para questionar a essência das coisas e valorizar a dúvida na procura de explicações suscetíveis de fazer avançar o conhecimento através da exploração de novos factos.

                Considerando que a aquisição do conhecimento dá que pensar, este personagem defende, assim, a existência de «um sistema geral do pensamento» - o absinto, a sua «teoria do mundo» – o qual, a partir da vasta informação enciclopédica de que dispõe, o leva a subverter os padrões instituídos e a criar uma «realidade melhor», com novos conceitos - bolsos de calças que estejam preparados para levar líquidos, por exemplo.

O absinto está para o Senhor Henri como a imaginação (a criatividade), o pensamento (a razão) estão para o cientista: representa o estímulo, o incentivo que põe em causa toda a erudição, o saber pré-concebido para estabelecer novas conexões, criar novas teorias: «as pessoas que têm azar não deixam de ter sorte” ou ainda “nos dias que correm aprende-se por todos os lados do corpo

Em síntese, podemos considerar que no livro O Senhor Henri literatura e ciência confluem, esbatendo-se a antinomia objetividade científica versus criação subjetiva, pois ambas valorizam a criatividade como atitude que conduz à (des) ocultação do real:

"Muito deve a literatura
ao absinto,
Em qualidade, muito mais
Que ao tinto..."

                          Alexandre O´Neill

professora Teresa Lucas



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